quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sacramento do momento presente - 3ª parte



O que é o tempo – duração ou movimento?

Há muito que os filósofos tentam lidar com a experiência do tempo. Henry Bergson, por exemplo, tornou-se famoso por definir a duração como um elemento essencial do tempo. Devido a algumas características da cultura moderna, criou- se a ilusão do instante, de que ele seria o congelamento de uma etapa do movimento.  Sendo assim, o tempo seria o movimento para frente e os movimentos que congelamos não seriam tempo, mas uma imagem irreal (como uma fotografia que capta um momento de luz, mas não é realidade do fato). Então, quando você congela um instante você não pode referir-se mais a ele como tempo, mas como uma multiplicidade de fenômenos que aconteceram durante o tempo.  O tempo não passaria de um movimento.

Outro filósofo francês discordou das ideias de Bergson e afirmou que o tempo é exatamente o instante que passou. Que não se pode falar do tempo como uma durabilidade, mas como uma série finita de instantes que daria à luz a uma descontinuidade essencial no tempo.

Sem intenção de dar solução para o debate, eu diria que a partir de uma cosmovisão cristã nenhuma das duas teorias é totalmente verdadeira. Por um lado, existe duração. O tempo, além de ser um instante, é a presença do passado e a antecipação do futuro na nossa experiência presente. É por isso que o passado é tão importante na cosmovisão cristã. Por outro lado, a ideia do instante faz sentido. Ele não é só a continuação do que estava vindo, mas é algo novo que acontece agora. Só assim temos a possibilidade cristã do milagre. Por exemplo, para que Jesus seja o verbo encarnado ele não pode ser reduzido ao que estava acontecendo antes do processo histórico, ou seja, ele não faz parte de um movimento intrínseco ao processo histórico. Jesus é o novo que não pode ser explicado a partir do que vinha antes. Numa cosmovisão cristã existe novidade, e para haver novidade o instante tem que ser importante.

Sem intenção de solucionar o problema filosófico, eu diria que tanto duração como instante são essenciais para o cristão. (Mencionarei isso mais adiante.) O fato é que a intuição do futuro na imaginação e a lembrança do passado na memória estão concentradas no presente. É no presente que lembramos o passado e é no presente que imaginamos o futuro. De qualquer forma, o agora é essencial, pois só temos consciência de quem somos nele. Você pode pensar a respeito do que fez e imaginar o que vai fazer, mas o contato direto com você mesmo é neste exato momento. Um filósofo se referiu a isso como o eterno agora.

Continua...

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