A
percepção do tempo
Somos seres temporais e
espaciais, pois temos corpos que estão sujeitos ao tempo e ao espaço. Mesmo
sendo difícil de descrever isso racionalmente, temos uma intuição do tempo e o
experimentamos em termos de passado, presente e futuro. Como lidamos com estas
três dimensões da temporalidade? Vamos falar primeiro sobre o passado e o
futuro. Acessamos o passado por meio da memória e o futuro pela imaginação. Por
meio da memória você se lembra de fatos passados recentes e mais remotos. Mesmo que suas imagens do passado sejam
seletivas, você tem uma memória. Por isso, é possível escrever uma história por
meio da memória acumulada de um indivíduo ou de uma cultura.
Naturalmente, não temos o
mesmo tipo de acesso ao futuro como temos ao passado, porque diferentemente do
passado ele ainda não se concretizou. Mas o ser humano tem capacidade de
imaginar o futuro e fazer projetos e /ou previsões que podem ou não dar certo.
Os cientistas, por exemplo, constroem modelos para descrever um processo físico
e usam o conhecimento já disponível para testá-los. Foi o que fizeram ao
sugerir o modelo do universo inflacionário.
Uma das previsões desta teoria foi de que haveria uma radiação de fundo
resultante de uma explosão original, o Big Bang. De fato, a existência de uma radiação de
fundo, mais ou menos uniforme no espaço, foi confirmada e ela foi relacionada
com o Big Bang. Isso não significa que a teoria esteja totalmente correta e
pode até ser que outra teoria explique melhor a existência dessa radiação de
fundo. Mas o fato é que os cientistas ao imaginar um modelo de como o universo
funciona previram a existência de alguns fenômenos antes desconhecidos. Não que
a radiação tenha surgido depois que o modelo foi imaginado, mas foi possível
imaginar algo que revelou um conhecimento que ainda viria no futuro. Não é à
toa que um filósofo referiu-se à imaginação como a sombra do real, pois com ela
podemos especular e idealizar coisas fantásticas e, assim, ter acesso a
possibilidades que ainda não haviam sido descortinadas a nós.
E como percebemos o
presente? Ele é percebido pela nossa consciência. Aliás, o momento presente
está na consciência. Mesmo quando pensamos sobre o passado e imaginamos o
futuro, fazemos isso no momento presente. É no presente que trazemos o passado
para junto de nós e é no presente que imaginamos o futuro. As duas experiências
são processadas no instante presente. Há
muitas formas de se perceber ou experimentar coisas: pelo pensamento ou
reflexão, pelo sistema sensorial (visão, tato, olfato, audição e paladar) e por
outras formas como percepção estética ou social.
É no momento presente que
percebemos tudo que nos é dado agora, mas nossa consciência do tempo não é
formada somente da percepção que experimentamos neste instante imediato. Se
fosse assim, viveríamos um eterno começo, porque os instantes estariam isolados
entre si na nossa experiência e a gente não experimentaria a duração. Sabemos
que uma coisa vem após da outra e que a última coisa passa para dar lugar à
outra. De alguma forma, a última coisa que passou ainda está com você, isto é,
você ainda retém algum elemento daquilo em seu interior. Isso resulta na experiência da duração do
tempo. Portanto, apesar de nossa
consciência do tempo ser presente, ela é a consciência do atual, do passado e
das possibilidades futuras. É a isso que chamamos de consciência cheia.
Continua...
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