Depois de ouvir sobre a
pericorese, desejei muito entrar nessa dança, ser totalmente envolvida pela
Trindade. Paradoxalmente veio também um sentimento de impotência ao olhar para
minha condição humana. No mesmo dia fui ministrada quando ouvi sobre o trono
divino – a peça fundamental do Universo – que é tão lindo, maravilhoso, pois
ali está o Deus todo poderoso, conforme pudemos verificar lendo vários textos
bíblicos. Foi fundamental perceber que quando olho para esse trono minha visão
é ampliada e eu não fico focada em mim mesma, nos meus problemas e mazelas. A
glória é tão grande que ofusca tudo ao redor. Isaias, Ezequiel e Daniel são
exemplos de homens que viram com nitidez o majestoso trono divino e ficaram tão
impactados que se prostraram e reconheceram que não eram dignos, mas Deus com
sua infinita misericórdia permitiu que eles permanecessem ali em sua presença.
Tudo se diz respeito ao que Ele é, e não ao que somos. Isso me trouxe paz.
Então continuamos a falar sobre a
dança da pericorese, mas agora focando no amor Ágape X amor Eros. Basicamente,
o Ágape é o amor divino que promove a união, se doa sempre não calculando ter
retorno, ao contrário do Eros que busca sempre a autossatisfação, é
individualista e quer possuir e controlar, promovendo a divisão. Nossos
relacionamentos hoje estão muito mais
marcados pelo amor Eros, mas ao contemplar Jesus podemos ter esperança de sermos transformados,
pois nos tornamos a imagem daquilo para o qual olhamos. Se despir do velho
homem é um processo contínuo. Jesus homem nos ensinou sobre o verdadeiro amor
se esvaziando de si mesmo (apesar de ser santo), enquanto Satanás ensinou o
caminho da exaltação de si mesmo que conduz à morte e a separação de Deus.
Ninguém pode tirar o “si” (de si
mesmo) de outra pessoa, apenas ela mesma, se inclinando para o esvaziar-se.
Portanto, o caminho para a glória é descer, tomar a condição de servos e seguir
os passos do Mestre.
Esse esvaziar-se não está ausente de
sofrimento, pois a dor permanece por causa da contaminação do pecado. Assim,
acredito que a palavra liberada sobre a questão do sofrimento veio consolidar
tudo o que já havia sido falado. Jesus falou muitas vezes sobre perder para
ganhar, morrer para viver e Ele mesmo aprendeu a obediência pelas coisas que
sofreu, porque nunca antes Ele teve vontade de não fazer a vontade de Deus.
Esse conflito, no momento presente, faz parte da dança da pericorese. Essa doação ainda nos causa sofrimento, mas é
através dela que somos aperfeiçoados.
Existem dois tipos de sofrimento:
aquele por estar fora da vontade de Deus e aquele por estar dentro da vontade
de Deus. O segundo vem por meio de perseguições, tribulações, pressões que
enfrentamos pela causa divina e há também a angústia gerada pelo próprio
espírito em favor dos propósitos de Deus. O fato é que se fizermos a vontade de
Deus, vamos sofrer, mas se perseverarmos confiando em Deus, também seremos
vencedores. Não precisamos buscar o sofrimento, mas quando ele vier podemos
aproveitar a oportunidade para abraça-lo e aprender algo.
Enfim, o objetivo maior das muitas
coisas que passamos e nos fazem sofrer é nos ensinar sobre a dança da Trindade,
livrando-nos do Eros e aperfeiçoando-nos no amor Ágape. Temos a chance de
internalizar essa verdade ou deixar o sofrimento causar em nós apenas
sentimentos de amargura, murmuração e desânimo.
Inclinar-se para essa palavra é
uma atitude individual, mas não há como permanecer e avançar sem o ambiente
coletivo, ou seja, através de alianças com pessoas que Deus coloca em nossas
vidas. Como a profecia em Ezequiel 37, cada osso tem que se juntar ao seu osso
para o corpo se formar. A comunhão também nos aperfeiçoa, tais como as pedras
que desfazem suas ‘pontas’ a partir do contato e atrito entre elas.
Acredito que nesse encontro tudo
girou em torno da dança que Deus quer que aprendamos. A palavra misturada a
oração e a comunhão com preciosos irmãos ocasionaram vislumbres maravilhosos da
presença divina, o que contribuiu muito para o renovar da nossa mente, pelo
menos da minha. Voltei para casa com o propósito de continuar contemplando tudo
que vi e ouvi e ir dançando a cada dia no tom que Ele tocar.
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