segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Operações escondidas de Deus



Tradução de um trecho do livro "Abandono de si mesmo à providência divina" de Jean Caussade. Esse livro foi a base do artigo que já colocamos aqui com o título de "O sacramento do momento presente".


SECÇÃO I. Operações escondidas de Deus.


Fidelidade à ordem estabelecida por Deus – nisso consistia toda a santidade dos justos sob a lei antiga, incluindo a de José, e da própria Maria.

Deus continua a falar hoje assim como falou nos tempos antigos aos nossos pais quando não havia guias espirituais, como atualmente, nem qualquer outro método regular de direção. Então, toda a espiritualidade consistia de fidelidade aos desígnios de Deus, pois não havia nenhum sistema regular de orientação na vida espiritual para explicar em detalhes tantas instruções, preceitos e exemplos como existem agora.

 Sem dúvida, nossas dificuldades atuais tornam isso necessário, mas não foi assim no início quando as almas eram mais simples e sinceras. Então, para aqueles que levavam uma vida espiritual, cada momento trazia alguma obrigação a ser fielmente cumprida. Assim, toda sua atenção era consecutivamente concentrada como uma mão que marca as horas que, em cada momento, atravessam o espaço atribuído àquela obrigação. Suas mentes, incessantemente animadas pelo impulso da divina graça, voltam-se imperceptivelmente para cada nova tarefa que se apresentava, pela permissão de Deus, em diferentes horas do dia. Essa era a mola oculta que impulsionava a conduta de Maria. Ela foi a mais simples das criaturas, e a mais intimamente unida a Deus. Sua resposta ao anjo "Fiat mihi secundum verbumtuum" continha toda a teologia mística de seus antepassados ​​a quem tudo se resumia, como se resume agora, a mais pura e simples submissão da alma à vontade de Deus, sob qualquer forma que se apresente. Este belo e elevado estado, que foi a base da vida espiritual de Maria, brilha visivelmente nestas simples palavras, "Fiat mihi" (Lucas 1.38). Observe que elas estão em perfeita harmonia com o que Nosso Senhor deseja que tenhamos sempre em nossos lábios e em nossos corações: "Fiat voluntas Tua".  É verdade que o que foi exigido de Maria naquele grande momento, foi para ela uma glória muito grande, mas a magnificência desta glória não teria efeito nenhuma impressão sobre ela se Maria não tivesse visto nela o cumprimento da vontade de Deus.

Em todas as coisas ela foi direcionada pela vontade divina. Fossem suas ocupações corriqueiras ou de uma natureza elevada, elas eram para Maria a manifestação, às vezes obscuras, às vezes claras, das operações do Altíssimo, nas quais ela encontrava motivo para a glória de Deus. Seu espírito, exultante de alegria, contemplava tudo que tinha que fazer ou sofrer em cada momento como o dom daquele que enche de boas coisas os corações daqueles que têm fome e sede apenas por ele, e não têm interesse algum nas coisas criadas.

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