Tradução de um trecho do livro "Abandono de si mesmo à providência divina" de Jean Caussade. Esse livro foi a base do artigo que já colocamos aqui com o título de "O sacramento do momento presente".
Fidelidade
à ordem estabelecida por Deus – nisso consistia toda a santidade dos justos sob
a lei antiga, incluindo a de José, e da própria Maria.
Deus continua a falar hoje assim como falou
nos tempos antigos aos nossos pais quando não havia guias espirituais, como atualmente,
nem qualquer outro método regular de direção. Então, toda a espiritualidade
consistia de fidelidade aos desígnios de Deus, pois não havia nenhum sistema
regular de orientação na vida espiritual para explicar em detalhes tantas
instruções, preceitos e exemplos como existem agora.
Sem
dúvida, nossas dificuldades atuais tornam isso necessário, mas não foi assim no
início quando as almas eram mais simples e sinceras. Então, para aqueles que
levavam uma vida espiritual, cada momento
trazia alguma obrigação a ser fielmente cumprida. Assim, toda sua atenção
era consecutivamente concentrada como uma mão que marca as horas que, em cada
momento, atravessam o espaço atribuído àquela obrigação. Suas mentes,
incessantemente animadas pelo impulso da divina graça, voltam-se
imperceptivelmente para cada nova tarefa que se apresentava, pela permissão de
Deus, em diferentes horas do dia. Essa era a mola oculta que impulsionava a
conduta de Maria. Ela foi a mais simples das criaturas, e a mais intimamente
unida a Deus. Sua resposta ao anjo "Fiat mihi secundum verbumtuum" continha
toda a teologia mística de seus antepassados a quem tudo se resumia, como se
resume agora, a mais pura e simples submissão
da alma à vontade de Deus, sob qualquer forma que se apresente. Este belo e
elevado estado, que foi a base da vida espiritual de Maria, brilha visivelmente
nestas simples palavras, "Fiat mihi" (Lucas 1.38). Observe que elas
estão em perfeita harmonia com o que Nosso Senhor deseja que tenhamos sempre em
nossos lábios e em nossos corações: "Fiat voluntas Tua". É verdade que o que foi exigido de Maria
naquele grande momento, foi para ela uma glória muito grande, mas a magnificência
desta glória não teria efeito nenhuma impressão sobre ela se Maria não tivesse
visto nela o cumprimento da vontade de Deus.
Em todas as coisas ela foi direcionada pela
vontade divina. Fossem suas ocupações
corriqueiras ou de uma natureza elevada, elas eram para Maria a manifestação,
às vezes obscuras, às vezes claras, das operações do Altíssimo, nas quais ela encontrava
motivo para a glória de Deus. Seu espírito, exultante de alegria,
contemplava tudo que tinha que fazer ou sofrer em cada momento como o dom daquele
que enche de boas coisas os corações daqueles que têm fome e sede apenas por
ele, e não têm interesse algum nas coisas criadas.
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