sexta-feira, 8 de junho de 2012

A TERRA INÓSPITA E O SACRAMENTO DO MOMENTO PRESENTE (PARTE 3)


O SACRAMENTO DO MOMENTO PRESENTE

A revelação disso veio a mim enquanto relia o livro compilado e introduzido por Philip Yancey, Muito mais que palavras, e organizado por James Calvin Schaap.  O livro consiste de 21 capítulos escritos por renomados escritores cristãos que contam como foram influenciados pelos mestres da literatura. Como havia terminado de ler Memórias de um pastor por Eugene Peterson, fui direto ao capítulo 13, escrito por ele. Estava curiosa para saber quem o havia influenciado: Fiodor Dostoievski o ensinara sobre Deus e paixão. Capítulo maravilhoso! Ele me convenceu a comprar Crime e castigo e Os Irmãos Karamazov e, assim, dar um pouco mais de lucro a um site de livros usados em bom estado.  O primeiro, sim, estava em bom estado, e o estou saboreando aos poucos, mas o segundo... esse tive que lacrá-lo no mesmo saco plástico em que foi embalado para não despedaçar antes de ser lido e para o cheiro de mofo não empestear meu quarto. (Mas o site é uma bênção para quem mora longe da civilização!)

Porém, o capítulo que me levou à experiência de o sacramento do momento presente foi o primeiro, escrito por Richard J. Foster (autor de Celebração da disciplina). Intitula-se: Os mestres devocionais: Um caso de amor. Li como seu desespero e fracasso como pastor de uma congregação complicada o levou aos mestres devocionais como Bonhoeffer, Santo Agostinho, Juliana, São Francisco, Woolman,  e lá estava, na última parte do capítulo, Jean-Pierre de Caussade que iria me ensinar via Foster a ´redimir e santificar as atividades comuns da vida´ (grifo do autor).

Foster testemunha que depois de passar horas lendo o livro num longo voo da costa da Pacífico para a do Atlântico que:

Jean-Pierre de Caussade ... , e seu livro The sacrament of the presente moment (O sacramento do momento presente) mudou para sempre o meu modo de ver a vida ´ordinária´. ... Naquele dia, senti que eu tinha parte na comunhão dos santos e percebi que Jean-Pierre de Caussade se tornara meu mestre na vida do Espírito. Parecia-me que ele se juntara à nuvem de testemunhas de Hebreus 12 e estava me impelindo a viver cada momento – este exato momento – como um sacramento santo. Senti um gracioso convite a cessar minha frenética luta pela santidade e repousar na luz de Cristo. Aquela viagem de avião tornou-se um tempo santificado, um dia santo, um momento sacramental.

Há anos eu já sabia, como Jó, de ouvir falar, que não havia separação entre o sagrado e o secular, mas foi somente depois de passar pela experiência de terra inóspita e de ler em seguida como De Caussade influenciou Foster que percebi que todas as minhas atividades comuns como dar aulas, cozinhar, lavar pratos, pagar contas, caminhar, fazer tricô, todas as atividades consideradas comuns possuem ´um significado sacramental´.  

Qualquer que seja meu dever no momento presente ele é sagrado e é ´o caminho para a santidade´. E é errado e até mesmo prejudicial eu querer fugir do dever presente e desejar estar em outro lugar fazendo algo mais ´espiritual´ como orar e meditar.  Como não vibrar e sublinhar algo do tipo:

De Caussade nos mostra um jeito de viver que exclui todas as dicotomias do tipo sagrado/secular. Para ele, nada é secular, pois a atividade divina permeia todas as coisas, ate as mais triviais. Ele nos estimula a nunca procurar a santidade das coisas, mas apenas a santidade nas coisas (grifo do autor). Até o próprio tempo é um sacramento, pois o tempo é simplesmente a história da ação divina (grifo do autor).

E quando eu mal acabara de compreender que deveria abraçar meus períodos de terra inóspita e não desejar pegar nenhum atalho para evitá-lo, senti-me mais uma vez inundada pela luz da verdade quando li:

Ás vezes quero passar por cima deste momento, desde dever, preferindo algum momento futuro – talvez algum que seja mais desafiador, mais estimulante, mais compensador. Lá está, presumo eu, o lugar onde Deus me abençoará, não aqui, nesta tarefa. A verdade pura e simples, naturalmente, é que o único lugar onde Deus pode abençoar-me é o lugar onde estou, porque este é o único lugar em que eu existo (grifo meu).

Wow! Wow! Vibrei e sublinhei mais esse trecho! Tem sido maravilhoso viver cada momento como sagrado e descobrir por meio De Caussade via Foster que ´as coisas comuns da vida estão repletas de significado espiritual´. 

No final de abril, fui presenteada com uma estadia num hotel quatro estrelas em Salvador, pertinho da praia do Farol do Barra, o cartão postal da cidade. Numa manhã bem cedo, antes das 6h, decidi caminhar na praia e tomar um delicioso e revigorante banho de mar. As ondas furiosas me fizeram lembrar do trecho de Isaias 43: ´... o Deus que constrói uma estrada através do oceano, que inaugura um caminho através das ondas furiosas.´

De repente, fui inundada por uma alegria tão grande, por um senso de assombro como diria Frederick Butchener, pela alegria que surpreende como diria C. S. Lewis. Talvez tenha sido naquele momento que tive certeza que depois de tantos períodos de terra inóspita as partes de minha identidade como filha do Aba estavam se conectando e se fundindo de forma coordenada. Então me indaguei: ´Meu Deus, por que tanta alegria? E ele me respondeu por meio de um cântico novo:

É que Jesus me curou
Me encheu com o Espírito Santo
É que Jesus me amou
Infinito amor
Como não ser livre?
Como não ser espontânea?
É que Jesus me curou
Me encheu com o Espírito Santo
É que Jesus me amou
Infinito amor

A liberdade em Cristo Jesus nos faz livres, espontâneos e autênticos. E me tem feito cantar um cântico novo em terra estranha!

Elenir Eller Cordeiro
Baixa Grande, 28 de maio de 2012

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