O SACRAMENTO DO MOMENTO PRESENTE
A revelação disso veio a mim
enquanto relia o livro compilado e introduzido por Philip Yancey, Muito mais que palavras, e organizado por James Calvin Schaap. O livro consiste de 21 capítulos escritos por
renomados escritores cristãos que contam como foram influenciados pelos mestres
da literatura. Como havia terminado de ler Memórias de um pastor por Eugene
Peterson, fui direto ao capítulo 13, escrito por ele. Estava curiosa para saber
quem o havia influenciado: Fiodor Dostoievski o ensinara sobre Deus e paixão.
Capítulo maravilhoso! Ele me convenceu a comprar Crime e castigo e Os Irmãos
Karamazov e, assim, dar um pouco mais de lucro a um site de livros usados
em bom estado. O primeiro, sim, estava em bom estado, e o
estou saboreando aos poucos, mas o segundo... esse tive que lacrá-lo no mesmo
saco plástico em que foi embalado para não despedaçar antes de ser lido e para
o cheiro de mofo não empestear meu quarto. (Mas o site é uma bênção para quem
mora longe da civilização!)
Porém, o capítulo que me levou à
experiência de o sacramento do momento presente foi o primeiro, escrito por Richard J. Foster (autor de Celebração da disciplina). Intitula-se: Os mestres devocionais: Um caso de amor.
Li como seu desespero e fracasso como pastor de uma congregação complicada o
levou aos mestres devocionais como Bonhoeffer, Santo Agostinho, Juliana, São
Francisco, Woolman, e lá estava, na
última parte do capítulo, Jean-Pierre de Caussade que iria me ensinar via
Foster a ´redimir e santificar as
atividades comuns da vida´ (grifo do autor).
Foster testemunha que depois de
passar horas lendo o livro num longo voo da costa da Pacífico para a do
Atlântico que:
Jean-Pierre de
Caussade ... , e seu livro The sacrament of the presente moment (O sacramento
do momento presente) mudou para sempre o meu modo de ver a vida ´ordinária´.
... Naquele dia, senti que eu tinha parte na comunhão dos santos e percebi que
Jean-Pierre de Caussade se tornara meu mestre na vida do Espírito. Parecia-me
que ele se juntara à nuvem de testemunhas de Hebreus 12 e estava me impelindo a
viver cada momento – este exato momento – como um sacramento santo. Senti um
gracioso convite a cessar minha frenética luta pela santidade e repousar na luz
de Cristo. Aquela viagem de avião tornou-se um tempo santificado, um dia santo,
um momento sacramental.
Há anos eu já sabia, como Jó, de
ouvir falar, que não havia separação entre o sagrado e o secular, mas foi
somente depois de passar pela experiência de terra inóspita e de ler em seguida
como De Caussade influenciou Foster que percebi que todas as minhas atividades
comuns como dar aulas, cozinhar, lavar pratos, pagar contas, caminhar, fazer
tricô, todas as atividades consideradas comuns possuem ´um significado
sacramental´.
Qualquer que seja meu dever no
momento presente ele é sagrado e é ´o caminho para a santidade´. E é errado e
até mesmo prejudicial eu querer fugir do dever presente e desejar estar em
outro lugar fazendo algo mais ´espiritual´ como orar e meditar. Como não vibrar e sublinhar algo do tipo:
De Caussade nos
mostra um jeito de viver que exclui todas as dicotomias do tipo
sagrado/secular. Para ele, nada é secular, pois a atividade divina permeia
todas as coisas, ate as mais triviais. Ele nos estimula a nunca procurar a santidade das coisas, mas apenas a santidade nas coisas (grifo do autor).
Até o próprio tempo é um sacramento, pois o
tempo é simplesmente a história da ação divina (grifo do autor).
E quando eu mal acabara de
compreender que deveria abraçar meus períodos de terra inóspita e não desejar
pegar nenhum atalho para evitá-lo, senti-me mais uma vez inundada pela luz da
verdade quando li:
Ás vezes quero
passar por cima deste momento, desde dever, preferindo algum momento futuro –
talvez algum que seja mais desafiador, mais estimulante, mais compensador. Lá
está, presumo eu, o lugar onde Deus me abençoará, não aqui, nesta tarefa. A
verdade pura e simples, naturalmente, é que o
único lugar onde Deus pode abençoar-me é o lugar onde estou, porque este é o
único lugar em que eu existo (grifo meu).
Wow! Wow! Vibrei e sublinhei mais
esse trecho! Tem sido maravilhoso viver cada momento como sagrado e descobrir
por meio De Caussade via Foster que ´as coisas comuns da vida estão repletas de
significado espiritual´.
No final de abril, fui
presenteada com uma estadia num hotel quatro estrelas em Salvador, pertinho da
praia do Farol do Barra, o cartão postal da cidade. Numa manhã bem cedo, antes
das 6h, decidi caminhar na praia e tomar um delicioso e revigorante banho de
mar. As ondas furiosas me fizeram lembrar do trecho de Isaias 43: ´... o Deus que constrói uma estrada
através do oceano, que inaugura um caminho através das ondas furiosas.´
De repente, fui inundada por uma
alegria tão grande, por um senso de assombro como diria Frederick Butchener,
pela alegria que surpreende como diria C. S. Lewis. Talvez tenha sido naquele
momento que tive certeza que depois de tantos períodos de terra inóspita as
partes de minha identidade como filha do Aba estavam se conectando e se fundindo
de forma coordenada. Então me indaguei: ´Meu Deus, por que tanta alegria? E ele
me respondeu por meio de um cântico novo:
É que Jesus me curou
Me encheu com o Espírito Santo
É que Jesus me amou
Infinito amor
Como não ser livre?
Como não ser espontânea?
É que Jesus me curou
Me encheu com o Espírito Santo
É que Jesus me amou
Infinito amor
A liberdade em Cristo Jesus nos faz
livres, espontâneos e autênticos. E me tem feito cantar um cântico novo em
terra estranha!
Elenir Eller Cordeiro
Baixa Grande, 28 de maio de 2012
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