terça-feira, 29 de maio de 2012

A TERRA INÓSPITA E O SACRAMENTO DO MOMENTO PRESENTE


Elenir Eller Cordeiro


Este ano tive duas experiências maravilhosas, mesmo que dolorosas, que já delinearam, em parte, meu ano de 2012. Denominei-as de ´terra inóspita´ e ´o sacramento do momento presente´. Nomes estranhos, não? Mas eles têm sido incorporados em meu vocabulário e o resultado delas me tem feito mais livre, mais espontânea, mais autêntica, e mais segura para, se necessário for, errar sem medo. Têm me feito cantar um cântico novo em terra estranha!

TERRA INÓSPITA
Aprendi esse termo e vivi essa experiência lendo o livro de Eugene Peterson, Memórias de um pastor. Um livro divisor de águas em 2012! 

Passei horas lendo-o  nos feriados da semana santa, num período de muita angústia espiritual, num lugar chamado Barracão, nome de um sítio na zona rural de Baixa Grande, onde fica o prédio do CPP Nordeste. Devido à seca que tem havido na Bahia, não poderia haver cenário mais apropriado para se ter este tipo de experiência.  Eu estava numa terra literalmente inóspita, seca, árida, selvagem, exaurida, lendo sobre os períodos de terra inóspita de Eugene Peterson e vivenciando o meu próprio. Tudo se encaixava perfeitamente bem, tudo muito naturalmente espiritual e espiritualmente natural, como escreveu Francis A. Schaeffer em A verdadeira espiritualidade.

Eugene Peterson percebeu que ele parecia atravessar com muita frequência esse período de terra inóspita ou exaurida. Identifiquei-me imediatamente com as reações descritas por ele durante esta fase de seca espiritual, onde nada parece fazer sentido:

´... e como eles (os períodos de terra inóspita) pareciam intermináveis. Não haveria algo que pudéssemos fazer?´ - ele, acompanhado de sua esposa, indagou a um famoso escritor e conferencista sobre vida espiritual - ´Ele nos advertiu do perigo de atalhos.  Incentivou-nos a nos submetermos ao tédio, ao fogo purificador do não desempenho, e disse que não devíamos ter pressa.´  (grifos meus)

E quantas vezes, enquanto passava por meus períodos de terra inóspita, também não fora tentada a pegar atalhos, a fugir do tédio e do fogo purificador do não desempenho?

Peterson me ensinou durante aqueles dias de retiro espiritual no meio da vegetação seca da caatinga do recôncavo baiano que ´há muita coisa acontecendo mesmo quando você acha que não há nada acontecendo´.  Que deveria continuar guardando meu  ´schabat´ (o conferencista lhes ensinou isso baseado no livro O Schabat de Abraham Joshua Heschel). Schabat significa descanso e na prática é tirar um dia ou algumas horas toda semana para estar em silêncio, meditação e oração. Schabat também é, todos os dias, praticar o caminho de Emaús, o silêncio de Emaús, onde, a qualquer momento, Jesus, que sempre esteve ao nosso lado, abre os nossos olhos espirituais e se revela a nós, fazendo arder nosso coração. Ele vem para nos ensinar e ficar conosco por alguns momentos de forma mais palpável. Vem e parte o pão e desaparece, mas sem nos deixar desamparados, pois prometeu estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos. No caminho do silêncio de Emaús é onde aprendo sobre o evangelho do coração ardente.


continua...

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