Elenir Eller Cordeiro
Recentemente, fui muito visitada e quebrantada com as histórias de Noemi e Ana. Meditei sobre as passagens em que elas dizem passar por `amargura de alma` (e na verdade, eu estava passando por uma também) e pude perceber muitas semelhanças e diferenças na forma como elas passaram por essa fase de suas vidas e também no resultado positivo que isso produziu. Parece estranho dizer isso, mas existe uma amargura de alma que produz fruto bom tanto em nossas vidas como também para o progresso do plano de Deus.
Noemi falou abertamente para suas amigas que o todo-poderoso tornara sua vida muito amarga. O Todo-poderoso fora severo com ela. Ele lhe trouxera desgraça. `Ele arrasou comigo`, disse ela, e pediu que mudassem seu nome de Noemi para Mara, amarga.
Todas as duas, Ana e Noemi, estavam sem filhos. Noemi era mulher de idade e que perdera tudo - marido e filhos e direito à terra. Saíra, obedecendo ao marido, em busca de prosperidade e dera tudo errado.
Outros homens da Bíblia, por causa de fome, fizeram isso e parece que houve um tempo de desvio em suas vidas, como Abrão e Isaque. Essas decisões me levaram a pensar: Em que base tomar decisões? Certamente, só seguir a luz das circunstâncias não é suficiente. O homem natural age assim, mas o homem espiritual não. Quantas vezes em minhas crises de angústia de alma eu também penso na possibilidade de largar tudo, chutar o pau da barraca e ir tentar minha sorte em outro lugar? Mas sei que fugir não é a solução e acabo recebendo graça para esperar com paciência e receber renovação e mais luz do Senhor.
Noemi tinha uma nora maravilhosa que foi seu consolo e amparo na velhice. E Ana, mesmo possuindo um marido tão amoroso, tinha uma Penina, uma pedra em seu sapato, uma rival que a provocava o tempo todo.
Que seria pior? A situação de Noemi voltando de Moabe, sem marido e sem filhos e sem terra, ou de Ana, com um marido tão protetor e carinhoso, mas vivendo com um inimigo lhe atormentando diariamente. Cada um com sua cruz.
Olhando de longe, se pudesse escolher, acho que aguentaria mais a situação de Noemi, pois tenho estopim curto e muita dificuldade de aguentar pessoas me atormentando e me criticando por coisas que o Senhor permitiu. (No caso de Ana, diz que o Senhor a deixara estéril. Coisa difícil de entender!)
Nem sempre amargura de alma envolve situação de pecado. No caso de Noemi, ela apenas havia seguido a decisão do marido de ir para Moabe, e no caso de Ana sua esterilidade foi algo permitido por Deus. Minha tendência com as Peninas da vida (e quantos ministérios de Peninas não existem dentro da igreja?) era ir dizendo logo: ´Por que fica me criticando? Deixe-me em paz e vá criticar Deus!`
E como Ana reagiu? Ela só fazia ficar calada e triste e acumular sua amargura de alma, ao passo que Noemi desabafou tudo em público – ´Deus arrasou comigo, me chamem de Mara, amarga´. Fico impressionada como Deus sabe lidar com todo tipo de pessoa - as que explodem e extravasam sua amargura e as que suportam caladas e as retém como uma panela de pressão retém vapor.
Agora, a solução para a amargura das duas foi semelhante – um bebê! Só que Noemi ganhou seu bebê através de Rute e Boaz, mas a Bíblia diz que ela se responsabilizou por ele e o criou como filho (Rute 4:14,16). Obede foi o consolo de sua velhice – valeu-lhe como sete filhos! Será que valeu? Certamente que sim. Obede veio a ser o avô de Davi, o homem segundo o coração de Deus. Davi foi uma das grandes personagens da Bíblia, o grande salmista que profetizou sobra vinda do Filho do homem, o maior rei de Israel que teve a grande ideia de fazer casa para Deus e que escolheu Jerusalém para capital do reino de Israel e do reino milenar. Valeu ou não a pena toda a amargura de alma de Noemi? Esse bebê valeu ou não mais que sete filhos?
E o bebê de Ana foi Samuel. Será que ele valeu mais que sete filhos? Elcana, marido de Ana, achava que ela deveria se consolar com o amor dele que valia mais que dez filhos (exagero de Elcana?).
Mas Ana não se consolava. Até que chegou o dia em que sua panela de pressão de amargura de alma explodiu na hora certa, no lugar certo e com a pessoa certa. Ela orou ao Senhor com tal intensidade que Eli, o sacerdote, pensou que estivesse bêbada. Nem a maior autoridade religiosa da época entendeu o que se passava em sua alma. Fez mau juízo dela. Quão grande amargura era aquela! Tanta vontade que tinha de ter um filho e de se livrar daquele opróbrio, daquela vergonha constrangedora. (1 Sm 1:9-17).
Ana tinha um espírito tão manso que não se revoltou conta o sacerdote e até aceitou sua benção, e foi-se leve e tranquila porque ´seu rosto já não estava mais abatido`. Outra tradução diz que ´seu semblante já não era mais triste´. Oh, até chegar neste ponto – quanta angústia não temos que curtir e acumular? Amargura de alma mais tempo mais silêncio mais espera produz um bebê.
A espera é um período de aprendizado. Eugene Peterson diz em A Mensagem que a espera nos dilata, assim como uma mulher grávida cresce até dar à luz a seu bebê. E Henri Nouwen diz que a espera não é em vão. Ela caminha de algo para algo mais. `Quanto mais esperamos, mais ouvimos falar sobre quem (ou o que) estamos esperando.` E o profeta manda por nossa boca no pó e esperar, talvez ainda haja esperança.
Noemi e Ana, duas mulheres que enfrentaram sua amargura de alma de modo diferente, mas que alcançaram resultado semelhante: um bebê que valia mais de sete filhos. Uma falou abertamente contra Deus – fez uma imagem distorcida dele, mas no meio do processo ela reconheceu: não, o Senhor não deixou de ser leal e bondoso para com os vivos e mortos. Ela quebrou fortalezas mentais negativas e abandonou sua imagem distorcida de Deus.
Ana suportou sua tristeza sem murmurar e a perseguição de Penina e o mau juízo de Eli sem revidar. Aguardou o dia adequado para extravasar toda sua amargura de alma e depois disso seu semblante já não era mais triste. No outro dia, ela se levantou juntamente com seu marido (e com certeza com sua rival e filhos) e adorou o Senhor. Voltou para Ramá convicta de sua vitória. A espera e a perseverança haviam percorrido todo o caminho necessário e haviam gerado esperança e expectativa em seu coração (Rm 5.2-3).
E quanto representou para o plano de Deus esse bebê de Ana, Samuel, que pediu ao Senhor para devolver e ser criado com o sacerdote Eli, o mesmo que fizera mau juízo dela! Samuel viria fazer cessar todo o ciclo de juízes, onde cada um fazia o que era melhor para si, e iniciar o período de reis. Ouviria a voz de Deus desde criança, seria treinado no meio de um caos pelo sacerdote Eli e através de Samuel todo Israel saberia que Deus voltara a falar no meio de seu povo. Esse bebê, fruto da amargura de alma de Ana, seria o último juiz de Israel e o profeta que ungiria Davi, o maior rei de Israel, que conheceria os caminhos do Senhor como nenhum outro. Olha o que produziu a fusão de duas amarguras de alma!
Ana e Noemi, duas mulheres amarguradas de espírito, cujas histórias se entrelaçam e faz o plano de Deus avançar. Que coisa incrível! Duas mulheres que viveram uma ´vida menor´ (mas que tem valor de uma joia aos olhos de Deus), mas cuja angústia produziu grande resultado no plano de Deus.
A palavra do Senhor para nós hoje é João 14:1: ´Não se turbe o vosso coração, crede em Deus, crede também em mim.` Seja extravasando sua amargura como Noemi ou guardando-a no coração como Ana, o importante é não perder a esperança e a confiança em Deus. Ele nos deixa sua paz no meio da tempestade. Não precisamos ter medo. O próprio Davi escreveu: Em me vindo o temor hei de confiar em ti. E Deus cuja palavra eu louvo, nele está minha confiança. No meio de nossas maiores crises, podemos experimentar confiar. Nem medo de ter medo precisamos ter.
E minha oração é:
`Senhor, eu tenho angústia de alma e tenho inimigos que me atormentam. Infelizmente, o ministério de Penina funciona sempre, mas eu decido esperar até o dia em que vou extravasar toda minha tristeza e perplexidade, toda minha dor permitida por ti (não arquitetada, mas permitida por ti). E, assim, meu semblante já não será mais triste. Terei condições de esperar em ti e o resultado de minha angústia de alma terá valido a pena – não porque eu consegui minha benção – mas porque minha vida está tão entrelaçada com o teu plano que meus problemas se tornaram teus problemas, e teus problemas se tornaram meus.`
Como é glorioso saber que a resposta de minha amargura de alma pode fazer o plano de Deus andar e deslanchar, assim como aconteceu com Noemi e Ana.
Agora eu entendo porque Jesus disse que tudo que pedirmos no nome dele será feito. Com vidas tão entrelaçadas assim com o plano de Deus, todos os pedidos serão atendidos porque estão entrelaçados com a vontade de Deus. `
E minha canção tem sido:
Vem me dar, Senhor
Vem me dá, Senhor
Um espírito de Ana que pediu pra te devolver
Samuel, sacerdote, juiz
O profeta que ungiu Davi
A figura do verdadeiro Rei.
E a canção de Deus para mim tem sido:
Eu jamais esquecerei o meu povo
Pois ele está gravado em minhas mãos
Eu jamais esquecerei você
Órfão não te deixarei
Eu jamais esquecerei o que é meu.
Pode a mâe esquecer o seu filho
Ou a mulher a criança do seu seio
Mesmo ainda que esquecesse
Sim ainda que esquecesse
Eu jamais esquecerei o que é meu
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